Ceará: despesas do SUS com ‘doenças do esgoto’ equivalem ao custo de três unidades básicas de saúde

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Ceará: despesas do SUS com ‘doenças do esgoto’
Foto reprodução: Diário do Nordeste

 

No Ceará, despesas do SUS com enfermidades ligadas à falta de saneamento básico alcançam valor equivalente à construção de três postos de saúde


Pressionar a descarga do banheiro é só o ponto de partida de um processo de tratamento de esgoto que permanece invisível para grande parte da população cearense. No entanto, quase metade do Estado ainda vive sem saneamento básico e exposta a doenças muitas delas graves causadas pelo contato com efluentes não tratados.

Segundo a cientista ambiental Brenda Rozendo, do Instituto Terre des Hommes Brasil, as crianças são as mais vulneráveis porque têm um sistema imunológico ainda em formação e maior exposição a ambientes contaminados. Essa realidade é facilmente observada no Vicente Pinzón, em Fortaleza, onde o Riacho Maceió corta a comunidade recebendo lixo e esgoto ao longo do percurso até o mar. Ali, crianças costumam brincar ou pescar no canal poluído, como relata o morador e articulador comunitário Mário França, de 23 anos.

Os números confirmam o impacto: em 2024, 12,2 mil cearenses foram internados por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI). Quase 70% das vítimas eram crianças e adolescentes. No total, o SUS gastou R$ 5,14 milhões para tratar esses pacientes valor suficiente para construir três postos de saúde de pequeno porte. A maioria das internações (84%) foi causada por doenças de transmissão feco-oral, principalmente infecções intestinais, que poderiam ser evitadas com acesso a coleta e tratamento de esgoto.

A falta de saneamento também prejudica a educação: mais de 1 milhão de pessoas de 0 a 19 anos vivem em domicílios sem esgotamento sanitário adequado no Ceará. Entre os jovens que não têm banheiro em casa, a nota média no Enem é até 30% menor, segundo o Instituto Trata Brasil. Para lideranças locais, como Mário França, o problema se agrava em territórios marcados pelo racismo ambiental, onde populações vulneráveis convivem com esgoto a céu aberto, lixo e água contaminada.

Moradores do entorno do Riacho Maceió relatam mau cheiro, proliferação de insetos e constante adoecimento. Em alguns trechos, o esgoto corre pelo meio da rua e chega a invadir casas durante as chuvas. A Prefeitura de Fortaleza e a Cagece afirmam que obras de esgotamento avançam na região, beneficiando mais de 2 mil moradores.

As DRSAI também podem ser fatais: em 2024, 391 pessoas morreram no Ceará por doenças relacionadas à falta de saneamento, entre elas 30 crianças e adolescentes. Um caso extremo ocorreu em Caucaia, quando uma bebê de um ano morreu após contrair ameba Naegleria fowleri, associada ao contato com água não tratada.

Para especialistas, investigar e ampliar o saneamento é fundamental para proteger a saúde pública e o meio ambiente, evitando que esgoto sem tratamento chegue aos rios e ao mar. A Cagece afirma realizar análises rigorosas da água distribuída e manter ampla estrutura laboratorial no Estado.

A maior aposta para mudar esse cenário é a Parceria Público-Privada (PPP) entre a Cagece e a Ambiental Ceará, que prevê investimento de R$ 6,2 bilhões para ampliar a coleta e o tratamento de esgoto em 24 municípios. A meta é chegar a 95% de cobertura até 2040. Hoje, o Ceará tem 50,36% de esgotamento sanitário; Fortaleza, 73,04%.

Segundo o Instituto Trata Brasil, a universalização do saneamento poderia reduzir em R$ 69 milhões por ano os gastos com saúde no Estado uma economia que, até 2040, chegaria a R$ 1,2 bilhão.

Fonte: Diário do Nordeste 

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