Desmatamento ameaça solo do sertão cearense

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Desmatamento e superpastejo desertificam o solo de Irauçuba.
Os xiquexiques e o juazeiro são os únicos elementos que dão vida a um grande "deserto" no município de Irauçuba, distante 150Km de Fortaleza. Ali, as "pedras crescem" e tomam conta da paisagem. Como diz o mateiro Francisco Coelho Silvino, 55, mas conhecido na região como Chico Nel, "aqui só tem pedras e chão esturricado".

Os municípios de Itapajé, Santa Quitéria, Miraíma, Canindé e parte de Sobral também integram o Núcleo de Desertificação de Irauçuba, perfazendo uma área de 12.305 Km² de terras degradadas. Em Irauçuba, seis áreas são estudadas, desde 1999, pelo professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema), da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Gerardo Beserra de Oliveira.

José Gerardo explica que, em cada área-piloto, foram montados dois conjuntos de amostragem, constituídos por exclusões de 0,25 hectares protegidos por cercas de arame farpado; e terrenos externos não cercados do mesmo tamanho. De acordo com o doutor em Manejo de Pastagens pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos da América (EUA), o objetivo do estudo é identificar os processos, a intensidade e as causas naturais da degradação e desertificação e verificar as mudanças na biodiversidade e ambiente físico dessas áreas.

Superpastejo

Conforme os estudos coordenados pelo professor José Gerardo, as terras em Irauçuba são usadas para agricultura familiar com plantações de milho, feijão e mandioca nas áreas favorecidas pelas chuvas, como sopé dos morros e aluviões (às margens dos rios). As demais são usadas para pecuária e são as principais responsáveis pelo processo de desertificação no Município. "Eles eliminam as árvores e arbustos para aumentar a produção de forragem e jogam em cima uma carga animal acima da capacidade do solo, causando o superpastejo", explica.

O excesso de animais faz com que a cobertura da terra seja eliminada, diminuindo a infiltração da água, causando o acelerado processo de desertificação. É o que a reportagem viu na localidade de Cacimba Salgada, situada a 6Km da sede de Irauçuba.

"O homem, em Irauçuba, deixa a vaca no pasto e ela come até o último capim. Depois, ele bota a ovelha para comer o resto. Quando vem a primeira chuva, o impacto da gota d´água desagrega o solo da superfície, que fica saturado e escorre levando os nutrientes". O resultado desse processo, explica José Gerardo, é que os homens do campo chamam de crescimento das pedras. "Elas na verdade só fazem aparecer devido ao processo erosivo", salientou.

As áreas de estudo da UFC, intocadas desde o segundo semestre do ano 2000 são monitoradas em períodos pré-determinados. Anualmente, é feita a verificação da vegetação (frequência e cobertura) dentro e fora das exclusões. A cada três anos é analisado o processo de erosão e, nos anos de 2001, 2007 e 2011, houve análise da fertilidade. Segundo Beserra, além do superpastejo, a média de chuva na região é de 590mm, com variação acima de 50% também é um grande problema.

Ematerce

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) desenvolve um projeto para ajudar a frear o processo de degradação do solo e aumentar a produção no município de Irauçuba. O principal está sendo desenvolvido no Assentamento Mandacaru, na Zona Rural do município.

O assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) conta com 46 propriedades abrigando 130 famílias. Um dos beneficiados pelo projeto é o agricultor José Marcelino Ferreira Pedrosa, 70.

Sorriso fácil, chapéu preto na cabeça e fala desenvolta, Marcelino Ferreira conta como a terra foi degradada: "aqui era área de pisoteio dos bichos e de plantação de algodão. Quando cheguei, em 1960, isso tudo era mata, mas hoje não tem nada mais".

Fernando Antônio Mesquita Araújo, engenheiro agrônomo e gerente da Ematerce em Itapajé, acompanhou a reportagem, em uma área que servia apenas para pastagem e está sendo preparada para cultivo de milho e feijão com a técnica chamada de Cordão de Controle.

O projeto consiste na criação de sulcos na terra, feitos pelo trator, para fazer com que a água fique na linha. Se houver excesso de água, ela passa, mas fica no que os técnicos denominam de cordão de pedra.

O projeto da Associação e da Ematerce é feito com chamada pública no Ministério do Meio Ambiente (MMA) com valor de R$ 641,7 mil, sendo 10% oriundos do Governo do Estado e 90% do MMA, com recurso do Fundo Clima. O prazo do convênio é de 12 meses e a primeira parcela, de R$ 97,7 mil, já foi liberada.

"Se plantar de uma maneira convencional, a possibilidade é não ter cultivo. O que queremos mostrar é que, com a pouca chuva, poderemos conseguir produção nessa área que está em processo de desertificação", disse Mesquita. No entanto, mesmo com o projeto, ainda é tempo de esperar. "Estamos aguardando a chuva, qualquer chuva", disse.

A previsão, no entanto, não é das melhores. Segundo o agricultor José Marcelino já são três anos sem chuva e sem produção. "Estamos precisando da ajuda do Homem Maior", disse

Fonte: Dn
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