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| Foto reprodução: G1 |
Enquanto a principal aposta da prevenção as medicações injetáveis de longa duração ainda não chegou ao SUS, o número de novos infectados cresce. Especialistas apontam que a população perdeu o medo do vírus, o que reduz a busca por testagem e por estratégias de prevenção. Após o diagnóstico, a rotina da medicação diária continua sendo um dos maiores desafios para a continuidade do tratamento.
No Dia Mundial de Luta contra a Aids, o g1 reuniu dados do Ministério da Saúde, UNAIDS e relatos de infectologistas para entender avanços, desafios e o que se espera para os próximos anos.
O cenário global e brasileiro
Mundo40,8 milhões vivem com HIV.
9,2 milhões ainda não têm acesso ao tratamento.
Em 2024 foram 1,3 milhão de novos casos (UNAIDS).
Brasil (até 2025)Mais de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV.
46 mil novos casos somente em 2025 (+4,5% vs. 2024).
Desde 2007, 70,7% das notificações ocorreram em homens.
Em 2023, a razão chegou ao recorde: 27 casos em homens para cada 10 em mulheres.
Jovens são os mais afetados23,2% dos casos acumulados ocorreram entre jovens de 15 a 24 anos.
Entre homens, 40,3% das infecções de 2023 vieram da faixa de 20 a 29 anos.
Desigualdade racial aumenta o impactoEm 2023, 63,2% das novas infecções foram em pessoas negras.
Entre mulheres, esse índice chegou a 64,2%.
Para atingir a meta global de eliminar a Aids como ameaça à saúde pública até 2030, especialistas afirmam que o país precisará ampliar o diagnóstico precoce e acelerar estratégias de prevenção.
Perda da percepção de risco e mais infecções
Segundo a infectologista Gisele Gosuen (UNIFESP/EPM), o aumento de infecções reflete a falsa sensação de que o HIV deixou de ser perigoso por causa dos tratamentos modernos.
“As pessoas acham que ninguém mais morre de Aids e, por isso, não veem risco. Isso contribui para o aumento de casos”, afirma.
Promessas da prevenção: medicamentos injetáveis
Os métodos de longa duração são apontados como o próximo divisor de águas no combate ao HIV.
Cabotegravir (PrEP injetável)Aprovado pela Anvisa em 2023.
Disponível na rede privada desde agosto de 2025.
Aplicação a cada 2 meses.
Custos ainda altos: cerca de R$ 4 mil por dose.
Conitec avalia sua entrada no SUS.
Modelos indicam que sua adoção ampla pode evitar até 385 mil infecções até 2033.
Lenacapavir (duas aplicações ao ano)Ainda em análise pela Anvisa.
Não há previsão de liberação no Brasil.
Estudos internacionais mostram eficácia de 100% na prevenção do HIV em mulheres (NEJM, 2024).
Medicamento custa cerca de US$ 40 mil por pessoa/ano.
Gosuen ressalta que ambos os medicamentos devem ser usados inicialmente como prevenção, não como tratamento.
Diagnóstico precoce: autoteste ainda pouco divulgado
O autoteste gratuito no SUS poderia ampliar o diagnóstico precoce, mas ainda enfrenta baixa adesão e pouca divulgação.
“Parou-se de falar sobre HIV. É como se a doença tivesse desaparecido. Isso atrasa o diagnóstico e coloca vidas em risco”, alerta Gosuen.
O autoteste pode ser feito em casa ou na unidade de saúde, garantindo sigilo e privacidade.
Desafio da adesão: o cansaço da medicação diária
Mesmo com acesso à terapia antirretroviral, muitos pacientes não conseguem manter o tratamento contínuo.4% dos diagnosticados nunca se vincularam ao serviço de saúde.
1% não iniciou o tratamento.
13% abandonaram o tratamento após começar.
Manter o vírus indetectável por seis meses impede a transmissão sexual — mas exige tratamento rígido e sem interrupções.
Interações com outros medicamentos ou até vacinas podem elevar temporariamente a carga viral, por isso os pacientes precisam de acompanhamento constante.
Causas externas: redução no financiamento global
A UNAIDS alerta que a queda nos investimentos internacionais ameaça o combate global ao HIV:A assistência externa à saúde deve cair 30% a 40% até 2025.
Países de baixa e média renda serão os mais prejudicados.
Serviços de prevenção, como PrEP e circuncisão médica voluntária, já vêm sofrendo cortes.
Alguns países africanos como Nigéria, Uganda e África do Sul aumentaram investimentos próprios para reduzir o impacto.
O apelo da UNAIDS: expandir o lenacapavir
O órgão pede ações globais para disponibilizar rapidamente o lenacapavir para 20 milhões de pessoas, além de ampliar licenças para reduzir custos.
Estudos reforçam a alta eficácia do medicamento, reacendendo a esperança de acelerar o cumprimento das metas da ONU para 2030.
Outros destaques sobre o BrasilNos últimos 10 anos, as mortes por Aids caíram 33%.
Em 2023, foram 10.338 óbitos; 63% entre pessoas negras.
Entre 2022 e 2023, os casos de Aids cresceram 2,5%, retomando níveis pré-pandemia.
Maiores taxas de diagnóstico em 2023:Roraima (41,5)
Amazonas (32,5)
Pará (26,2)
Santa Catarina (25,8)
Rio Grande do Sul (24,4)
O que é HIV e como se transmite
A Aids é causada pelo HIV, que atinge os linfócitos CD4+ e enfraquece o sistema imunológico.
A transmissão ocorre por:sexo sem proteção;
compartilhamento de seringas;
transmissão vertical (gravidez, parto ou amamentação).
Prevenção combinada
Inclui PrEP, preservativos, PEP, testagem regular e estratégias de redução de danos.
Fonte: G1

