Enquanto encontros discutem desastres naturais e desertificação no Interior do Ceará, os açudes continuam reduzindo o volume na expectativa das chuvas de 2015
Nesta semana, ao mesmo tempo, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, em parceria com municípios cearenses, oferece curso de capacitação de agentes de proteção e Defesa Civil com foco em desastres naturais e tecnológicos, em Canindé; e Juazeiro do Norte sedia o Seminário Internacional “Convivência com o Semiárido: desafios e possibilidades no âmbito das ações para o combate à desertificação”.
Enquanto isso, dos 149 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), apenas um mantém o nível acima de 90% (Gavião, em Pacatuba, reabastecido pelo Eixão das Águas, no Sistema Jaguaribe).
Os demais estão secando e 122 registram nível inferior a 30%. O volume médio acumulado atualmente é 23,2%. A preocupação é com a próxima quadra chuvosa. Caso não ocorram precipitações suficientes para a recarga dos reservatórios em 2015, o Estado enfrentará agravamento da crise hídrica.
O ano de 2014 se aproxima do fim e assinala o terceiro período seguido de seca e sem recarga dos principais reservatórios. Nas regiões mais críticas, nas Bacias dos Sertões de Crateús e do Curu, a estiagem já perdura por cinco anos.
Esperança
O diretor de Operações da Cogerh, Ricardo Adeodato, mostra preocupação com quadro atual, mas, ao mesmo tempo, acredita que haverá elevada pluviometria no próximo ano. “Já começou a chover e temos fé de que a situação atual vai melhorar”, frisou. “Esperamos que a população faça uso racional da água,economize, assim como a indústria e a agricultura”. Ele lamentou desperdício de água pelos moradores e setores produtivos.
O governo do Estado adotou estratégias para enfrentar o quadro atual de risco de desabastecimento em alguns municípios. O conjunto de ações inclui instalação de adutoras de montagem rápida, com transferência de água entre bacias; negociação com produtores rurais de perímetros irrigados para redução de oferta de água; perfuração de poços profundos e distribuição de água por carro-pipa para comunidades isoladas.
“A prioridade é para o consumo humano e, se não chover, teremos novas negociações com os perímetros irrigados”, anunciou Adeodato. “A situação do Castanhão (o maior reservatório do Estado, que abastece a Região Metropolitana de Fortaleza e está com 28%) nos preocupa, mas temos o Açude Orós, que se mantém como estratégia, e acumula 51% da capacidade”.
Para 2015, mesmo com permanência de chuvas abaixo da média, Ricardo Adeodato avalia que as reservas no Sistema Jaguaribe são suficientes para enfrentar o ano. A situação mais crítica são as bacias dos Sertões de Crateús, cujo volume acumulado é 1% da capacidade, e do Curu (3% da capacidade).
O governo do Estado está investindo R$ 150 milhões em nove adutoras, numa extensão total de 420km. Entretanto, é preciso que os açudes que vão abastecer cidades distantes mantenham nível suficiente para a demanda de dois ou três centros urbanos.
Um exemplo é a adutora para Canindé/Caridade, que está com 90% dos serviços concluídos. A obra, de 54 km de extensão, tem custo de R$ 21 e vai beneficiar os municípios de General Sampaio, Paramoti, Caridade e Canindé a partir da transferência de água do Açude General Sampaio, na Bacia do Curu. Uma população estimada em 58 mil habitantes será atendida. Entretanto, o açude General Sampaio só tem apenas 3,3 da capacidade.
Mais crítica
A situação mais crítica é na região do Sertão de Crateús. O Açude Carnaubal é a principal fonte de abastecimento da cidade, e atualmente, está com volume 0,06% da sua capacidade, isto é, volume morto. Já a Barragem do Batalhão está com 34,7% de sua capacidade, mas, por ser de pequeno volume, seca até o fim do ano. Há um mês acumulava 45%. O Açude Sucesso, em Tamboril, na região, já secou.
Uma adutora está prevista para reforçar o abastecimento da região, saindo do Açude Araras, em Varjota, e atendendo às cidades de Crateús e de Nova Russas, a 150 km de distância. A previsão inicial do governo para entrega é no próximo mês de dezembro. O Açude Araras está também com reduzido volume: 11,8%, segundo dados da Cogerh, mas seria suficiente para atender à demanda em 2015.
Fonte: Diário do Nordeste